Entrevista: “Estão nesta actividade por vontade própria”

MARIANA SERRA é coordenadora da Equipa de Intervenção Directa da IPSS Florinhas do Vouga, Aveiro. A instituição dá apoio sanitário e psicossocial a prostitutas da região.

Que realidade encontram nas ruas?

Temos identificadas 19 trabalhadoras de sexo no concelho de Aveiro, mas sabemos que são muitas mais. Não se pode comparar aos grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto, mas não foge muito ao panorama do resto do país. Esta realidade está muito escondida e, apesar do trabalho das instituições, é difícil ter uma noção real a nível nacional do que se passa. Em Aveiro, sabemos que está a aumentar a prostituição de interior. As mulheres, provavelmente devido à violência e assaltos, arrendam apartamentos e recebem em casa.

Escutam muitos relatos de violência?

As trabalhadoras sexuais com quem trabalhamos queixam-se sobretudo de roubos de carteiras e de dinheiro.

É possível traçar um perfil da mulher que cai na prostituição?

As que acompanhamos têm entre 20 e os 65 anos de idade e baixa escolaridade. Quatro são estrangeiras. Nove são consumidoras de drogas. Todas estão nesta actividade por vontade própria. Falamos sobre a possibilidade de saírem, mas não demonstram vontade.

Que motivos as levam a prostituir-se?

O dinheiro que ganham com “facilidade”, sem terem que prestar contas a uma entidade patronal. E, também, não terem horário rígido de trabalho.

Que tipo de apoio é prestado às prostitutas?

Desde Dezembro de 2010 fazemos trabalho a nível da redução de riscos – entrega de preservativos, acções de sensibilização para cuidados de saúde e de higiene pessoal – e apoio psicossocial. Temos três pessoas a trabalhar: uma psicóloga, um enfermeiro e uma assistente social. Fazemos uma ronda periódica pelos locais identificados e fazemos rastreios (HIV/SIDA), administramos vacinas e prestamos cuidados de enfermagem.

Fonte: Jornal de Notícias